A manhã desta sexta-feira, 5, no XVI Congresso Nacional do Ministério Público de Contas abriu com a palestra “O poder da palavra pública, sua interface com a neurociência e as novas possibilidades trazidas pela inteligência artificial”, ministrada pela neurocientista Jeanine Benkenstein. A mediação foi do 2º Diretor Executivo da Ampcon e Procurador-Geral do MPC-PR, Gabriel Guy Léger.
Gabriel Guy Léger e Jeanine Benkenstein. Foto: Alexandre Rezende
Mineira de nascimento e radicada no Rio Grande do Sul, Jeanine abriu a fala conectando ciência e experiência de vida. Segundo ela, 95% das decisões humanas não são racionais, mas fruto de emoções, hábitos e intuições. Pesquisas recentes indicam que cerca de 90% da nossa personalidade é moldada pelo ambiente, o que explica a força de condicionamentos e crenças herdadas. “Se você não substitui o ‘software’, as memórias de longo prazo é que vão vencer”, afirmou.
Jeanine Benkenstein durante sua palestra. Foto: Alexandre Rezende
A palestrante apresentou as “hidrosferas de identidade”, camadas de crenças e experiências que “contaminam” a leitura da realidade e do outro. Como antídoto, propôs a “higienização das hidrosferas”, uma prática de trazer-se ao presente para reinterpretar significados herdados. Ela também alertou para os “vírus mentais”, expressões e narrativas populares que se instalam no subconsciente (“em time que está ganhando não se mexe”, “dedo podre”) e passam a governar escolhas de forma automática.
Na interface com o controle externo, Jeanine Benkenstein ressaltou o poder da palavra pública: “A palavra dos senhores cria a realidade administrativa”. Ela explicou o framing (enquadramento), a moldura mental com que cada pessoa recebe uma mensagem. Ao discutir relatórios, irregularidades ou políticas sensíveis (como saúde), quem escuta já chega com um enquadramento próprio, muitas vezes associado a vivências inconscientes. Por isso, fiscalizar bem é fiscalizar com técnica e criar adesão: sem comunicação, perde-se efetividade.
Benkenstein mostrou que mensagens enquadradas como ganho ou perda ativam áreas distintas do cérebro e modulam a percepção pública sobre o trabalho das instituições. Assim, projetos, pareceres e alertas podem e devem ser comunicados para prevenção e colaboração, e não como “prisão” ou “condenação”.
A palestra. Foto: Alexandre Rezende
No encerramento, ela propôs a convergência entre evidência, neurociência e inteligência artificial para transformar o controle externo:
“Que cada parecer seja um convite à integridade. Que cada alerta do sistema seja uma mão estendida, e não uma condenação. E cada decisão, um espelho da sociedade que os senhores escolheram proteger. Vamos juntos, com ciência, na mente e no coração, cuidar do que é de todos.”
Gabriel Guy Léger mediando a palestra. Foto: Alexandre Rezende
Licurgo Mourão entrega certificados para Jeanine Benkenstein e Gabriel Guy Léger. Foto: Alexandre Rezende
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