Há quase noventa anos a ponte Hercílio Luz é o cartão-postal de Florianópolis.
Construída para ligar a ilha de Santa Catarina ao continente, o ponto turístico que era motivo de orgulho dos catarinenses se transformou num símbolo da ineficiência governamental e do desperdício de dinheiro público.
Desde janeiro de 1982, quando foi interditada integralmente para o tráfego, devido a uma trinca com cinco centímetros numa das barras de olhal (um dos elos das correntes que seguram o vão central), nenhum carro jamais passou por lá.
Desde então, já houve quinze tentativas de reformar a ponte, mas ela nunca foi reaberta.
Na sexta-feira passada, depois de uma investigação de meses, o Ministério Público de Contas de Santa Catarina (MPC-SC) pediu a abertura de um processo que pode implicar a responsabilidade de até nove governadores que comandaram o estado nos últimos trinta e três anos e dos secretários responsáveis pelas reformas.
"Apuramos que nesses trinta e três anos em que a ponte está fechada foi gasto em torno de meio bilhão de reais.
Com esse valor daria para construir uma ponte nova, quatro vezes maior.
Mas mesmo assim a ponte continua interditada e se deteriorando a cada dia", afirma Diogo Ringenberg, procurador do Ministério Público de Contas de Santa Catarina.
Na peça, o procurador compara o valor gasto nas reformas da Hercílio Luz ao custo da "superfaturada" ponte Juscelino Kubitschek: inaugurada em 2002 em Brasília, com 1 200 metros e seis faixas, tinha orçamento inicial de 40 milhões de reais, mas ficou com valor final e atualizado de 360 milhões - ainda assim, menos do que o total investido nas reformas da ponte-símbolo de Florianópolis.
Um dos exemplos de má-gestão é o contrato de manutenção assinado em 2008 em que o governo do estado pagou 60 milhões de reais ao Consórcio Florianópolis Monumento para que apenas um terço das obras previstas ficasse pronto no dobro do prazo total.
Mesmo com os atrasos, o governo nunca havia cobrado multa das empreiteiras, com quem acabou rompendo o contrato em agosto do ano passado.
Para o Ministério Público de Contas "são fortes os indícios acerca das responsabilidades dos agentes públicos responsáveis pela gestão e acompanhamento das obras da ponte" e, por isso, entre os pedidos está a devolução por parte dos gestores dos quase 500 milhões desperdiçados, além dos valores que deixaram de ser arrecadados e gerados em virtude da inutilização da estrutura.
FONTE: revista Veja