Mais de R$ 16 milhões foram gastos por vereadores no Rio Grande do Sul em diárias de viagens do ano passado, aponta levantamento feito pelo Ministério Público de Contas (MPC) com o mapa das despesas em todo Estado.
Os dados expostos em reportagem do RBS Notícias da TV Globo podem ser encontrados neste endereço .
Boa parte das viagens foi para cidades turísticas, onde funcionários e vereadores alegaram ter feito cursos de qualificação.
Entre eles está Junior Sessim (PRB), de Tramandaí, no Litoral Norte, que, entre diárias e combustível referentes a uma viagem a Curitiba, recebeu quase R$ 3,2 mil por quatro dias.
"Acredito que, com certeza, todos os cursos que fui têm importância para mim como vereador, para trazer melhorias para a cidade", justifica o parlamentar.
Em um dia, ele ganhou o equivalente ao que a empregada doméstica Anaí da Silva recebe em um mês.
Todos os dias, ela volta para casa após o trabalho levando na carona da bicicleta os filhos que acabou de pegar na creche.
Ela mora com os filhos em uma peça, e sustenta a família com R$ 800 por mês.
"Acho o cúmulo do cúmulo.
A gente tem que viver com R$ 800.
Vamos colocar eles a viver com R$ 800, vamos ver se vão conseguir", afirmou.
Em 2014, a Câmara de Tramandaí foi a que mais teve despesas com viagens, segundo o levantamento do MPC.
Só em diárias, foram quase R$ 320 mil, além de R$ 100 mil em combustíveis e R$ 85 mil em inscrições nos seminários, quase sempre realizados pela mesma empresa.
O valor total supera os R$ 500 mil.
Entre os destinos do vereador Paulo Costa (PMDB), ex-presidente da Casa, estão Curitiba, Florianópolis e Foz do Iguaçu, terra das cataratas.
"A gente escolhe curso, olhamos o teor do curso e pedimos para o presidente para aprender, e assim o vereador vive", defende-se.
Para frequentar três cursos, Costa recebeu mais de R$ 9 mil reais, R$ 3 mil a mais que o salário mensal.
O vereador se atrapalhou ao ser questionado sobre o que aprende nas viagens.
"Eu fui lá ver o negócio do...
Nós fomos ver, o primeiro deles todos, que eu fui, foi para ver o negócio do plano diretor", disse.
Questionado sobre uma viagem a Florianópolis em abril do ano passado, não soube relatar o conteúdo do curso.
"De um ano atrás, eu não me lembro qual era o teor do curso", disse.
Atual presidente da Câmara, o vereador Flavinho Corso (PDT) diz que baixou um decreto para limitar a participação em cursos.
Porém, neste ano as despesas com viagens e seminários em Tramandaí já passa dos R$ 300 mil.
Entre as 10 Câmaras que mais gastaram, estão ainda Santo Angelo, Imbé, Caçapava do Sul, Erechim, São Gabriel, Gravataí, Rosário do Sul, Uruguaiana e Carazinho.
O procurador-geral do MPC, Geraldo da Camino, diz que os gastos são previstos sempre no ano anterior, durante a preparação do orçamento.
"Pode haver um indicativo de algum abuso eventual, e isso é objeto de verificação nas auditorias, nos exames feitos pelo Ministério Público de Contas", explica o procurador.
"Esse levantamento busca estimular a sociedade a exercer o controle social", acrescenta.
Em Imbé, vereadores e funcionários gastaram no ano passado quase R$ 400 mil em diárias, combustível e inscrições para cursos.
Entre os destinos, há praias como Balneário Camboriú e Itapema, em Santa Catarina.
O atual presidente da Câmara, Uiraçu Pinto (PROS), foi um dos que mais viajaram.
"Achamos que se faz necessário o aprendizado, a qualificação, para a prestação de serviços final para a comunidade", afirmou.
Já o vereador Nilton Gaudério (PSDB) diz que não viaja e nem participa de cursos.
"A lei permite.
Eu sempre digo que, para mim, é um roubo legalizado.
Não concordo com isso", diz.
Uma diária para fora do estado passa de R$ 700 na Câmara de Imbé.
Enquanto isso, o pedreiro Antônio César Cardoso reclama por não ter encontrado o remédio que precisa no posto de saúde da cidade.
"É um absurdo.
Estão tirando nosso dinheiro, enquanto poderiam estar revertendo esse dinheiro para a saúde", protesta.
FONTE: RBS